Rasgando o céu
Como o artista londrino Gerry Judah chegou à ideia de fixar três 911 em estelas de aço de até 24 metros de altura. Retrato de um extraordinário construtor de grandes esculturas
Gerry Judah chega para a festa em um
No museu, onde os convidados aguardam para a festa, o artista londrino de 64 anos chama a atenção de modo discreto. Com uma estatura imponente, vestido de preto e uma barba cerrada branca. Judah é uma pessoa agradável, acessível, para quem a proximidade com o ofício parece significar mais do que com o poder. Contente ele cumprimenta a equipe da oficina, que preparou os três 911 que agora estarão pendurados nas pontas da escultura, expostos a todos os tipos de clima, por anos e décadas. “Vocês foram maravilhosos”, diz ele para os homens que riem um pouco embaraçados e recebem com alegria os apertos de mão.
Judah sabe como é importante para seu trabalho ter um time que pensa junto. Uma equipe que pode acompanhar suas ideias sem ter que antes discutir, medir e pesar quando se trata de levantar colunas de, ao todo, 400 metros de comprimento de aço moldado em uma construção de 36 metros de altura contorcida e inclinada para o lado, como ele fez este ano no Goodwood Festival of Speed. Há quase 20 anos ele projeta e constrói esculturas centrais gigantescas para o lendário festival inglês da paixão automobilística, que o Conde de March organiza desde meados da década de 1990 em seus domínios em West Sussex.
Gerry Judah nasceu em 1951 em Calcutá, seus avós eram de Bagdá e se instalaram na Índia. Judah passou sua infância em Bengala Ocidental antes de se mudar com a família para Londres quando tinha dez anos. Aos 16 anos ele abandonou a escola, trabalhou como ajudante de cozinha, porteiro e desenhista técnico. Mais tarde ele estudou artes em renomadas escolas de arte em Londres, montou um estúdio no oeste de Londres e iniciou seu trabalho em grandes esculturas e pinturas tridimensionais fantásticas. Os meios necessários para fazer sua arte ele ganhava com sucesso com trabalhos em teatros e óperas, cinema e fotografia. Judah construiu sets de filmagem para Ridley Scott, para a Royal Shakespeare Company, para bandas de rock como The Who, Led Zeppelin e Michael Jackson.
Durante trabalhos de cenografia para produções fotográficas, Judah conheceu na década de 1980 um fotógrafo talentoso chamado Charles Settrington. “Muitos anos depois, um dia o telefone tocou”, lembra Judah, “e quem estava do outro lado da linha era Lord March em pessoa.” Charles Settrington, que naquele intervalo de tempo havia assumido o título de sua família nobre, pediu a Judah para pendurar um Ferrari no alto de um gigantesco arco do triunfo para o seu Festival of Speed. Judah trabalhava no andaime, não importando o clima. Sob pressão de tempo ele aparafusava e pintava com sua equipe, na primeira escultura gigante de Goodwood, chamada “central feature”, que deu início ao que passaria a ser um lendário espaço para a arte automobilística.
As esculturas de Goodwood, que são erguidas para um período de apenas duas ou três semanas e depois desmontadas e transformadas em sucata, foram ficando maiores, mais ousadas e mais sensacionais a cada ano. Judah montou carros de corrida históricos em gigantescos circuitos de corrida; criou um carro esporte com 28 metros de altura feito com tubos, que de cabeça para baixo aponta ereto para o céu; e aparafusou, em uma segunda encomenda da
O grupo de 911 causou uma impressão duradoura e rapidamente nasceu a ideia de perpetuá-lo – como escultura para a praça
A estrutura foi fixada a doze metros de profundidade no solo, para que possa suportar os três 911 nas pontas das estelas: o Modelo F de 1970, o Modelo G de 1981 e o novo 991 II, que comemorou sua estreia no Salão do Automóvel de Frankfurt (IAA) – todos na cor branca, tonalidade de cor RAL 9002. O mais baixo a 21 metros, o mais alto a 24 metros de altura. “Mais alto”, conta Judah, “não teria feito sentido, porque senão eles desapareceriam da vista dos passantes.”
Texto Therese Stelzner
Fotos Steffen Jahn