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É tudo uma questão de perspectiva – o design forma-se na cabeça do observador. Com seu estilo, Michael Mauer marcou a forma da
Este é um lugar maravilhoso. O céu de um profundo azul, o sol sarandeia sobre a superfície do lago. Rodeado por abruptos paredões rochosos, que se erguem a mais de mil metros, este lago suíço dá serenidade ao momento. Os esportistas de inverno conhecem este local à beira do lago como o gargalo que leva de Zurique às pistas de esqui de Davos e Arosa, ou ao vale de Engadina. Para a maioria dos viajantes, no entanto, permanece oculto o fato de que à sombra da autoestrada, que se retorce em galerias estreitas e túneis ao longo do espelho azul, encontram-se lugares contemplativos com pequenas baías e até praias de areia.
Para espíritos sensíveis, os maciços poderiam, aliás, parecer opressivos. Mas o entusiasmado esportista Michael Mauer encontrou aqui o seu polo de tranquilidade. “Alguns designers tiram sua inspiração da arte, outros visitam cidades e viajam a Londres na sexta à noite depois do trabalho”, explica ele, tomando um café em seu apartamento no andar mais alto de uma antiga fábrica, com vista para o lago e os picos. “Vejo que somos o tempo todo bombardeados por informações, e por isso devemos dar mais tempo para as nossas cabeças conseguirem processar tudo isso. Quando faço um tour de esqui aqui no fim de semana, ando de bicicleta, faço uma caminhada ou, simplesmente, me sento por duas horas no terraço sem pensar em nada relevante, então meu subconsciente aproveita esse tempo para classificar e processar as informações da semana, e encontrar soluções.”
Aliás, o que não falta a Michael Mauer são complexas questões de forma a serem resolvidas. O designer-chefe da
Para Mauer, que depois de concluir o segundo grau também trabalhou como instrutor de esqui e de surfe, antes de começar a estudar design de automóveis em Pforzheim nos anos 1980, essa é até hoje a profissão de seus sonhos. Enquanto jovem designer, ele projetou para a Mercedes-Benz o primeiro SLK, um marco pessoal e uma declaração precoce de seu estilo extensivo e purista. Após passar pelas marcas Smart e Saab, ele assumiu em 2004 a direção do departamento de
No
Para o designer, a identidade da marca é muito mais do que uma instância fixa, que se resolve facilmente seguindo ponto por ponto uma lista de controle. “Durante o desenvolvimento de novos modelos, elementos conhecidos da identidade do produto mudam, e assim chega-se a uma transformação sutil ou também totalmente radical da imagem da marca – em termos visuais, apenas. Um exemplo marcante é o gráfico do capô frontal do
“Em primeiro lugar está sempre a proporção”, resume Mauer o que acabou de dizer. “Aliás, em segundo e em terceiro lugar também.” O designer de 53 anos sorri. Não é bem a primeira vez que ele enfatiza isso, mas Mauer quer dizer exatamente o que acabou de pronunciar. Primeiro a proporção tem que estar correta, e só depois é que se começa a trabalhar a temática da identidade da marca. Na opinião de Mauer, os designers não cuidam apenas da “embalagem”. O design começa antes, já durante o planejamento do packaging, quando são definidos os volumes. “Por isso é importante que também tenhamos influência sobre esse assunto.”
Mauer desenha durante a conversa – concentrado, quieto, então se detém e olha seus esboços com ar crítico, vira o papel e o ergue no ar, examinando-o contra a luz quente do sol, que entra no apartamento através da janela da cobertura. “Esse é um clássico: você vê um esboço, mas algo não está certo, e é difícil saber exatamente o quê. Com frequência ajuda simplesmente mudar o ponto de vista e observar o desenho do outro lado.” Essas mudanças de perspectiva é que são características para o trabalho de Mauer. Também na convivência com sua equipe – ao todo são mais de cem designers, modelistas e especialistas em CAD – ele se esforça por encarar a própria visão das coisas apenas como uma possibilidade. “Sei que os nossos designers precisam naturalmente de uma determinada orientação, porém não quero dar mais do que impulsos de direção. Senão sufoco a criatividade deles. Minha opinião também só representa um ponto de vista.” Claro que no final Mauer é responsável por cada decisão, mas até essa decisão ser tomada, o designer-chefe quer promover a diversidade.
Descemos com alguns passos até o lago. No verão, a escola de windsurfe coloca mesas do lado de fora. Então Mauer, que mora aqui, às vezes ainda passa ali à noite, depois do trabalho, para tomar um aperitivo e olhar a água. Em sua normalidade despretenciosa, o lugar é quase comovente – então começamos a entender o que o estilista, que durante a semana passa por uma maratona de reuniões, encontrou aqui. Existe ainda lugar para uma assinatura pessoal em um conglomerado automotivo mundial como o Grupo Volkswagen? E, se sim, o que caracteriza o estilo Mauer? “Desejo sempre que meus carros pareçam sólidos como uma rocha”, afirma Mauer. “Que não haja necessidade de se colocar ainda mil linhas e detalhes para que eles se destaquem. Que o seu design seja claro – simples, mas cheio de tensão. E desejo que as pessoas parem na frente e digam: ‘Que obra de arte completa, que único!’” De fato, as superfícies da
“Por exemplo, no
Muitas coisas que caracterizam a
O sol desaparece – e com ele o mundo das montanhas ao nosso redor. Apenas os dois faróis do
Autor Jan Baedeker
Fotógrafo Tim Adler