Onde termina o oeste
Com a “CURVES”, ele criou uma nova qualidade de guia de viagem automotivo. Uma revista que não conhece retas. Viajamos com Stefan Bogner pela Califórnia e entendemos o que caracteriza as suas imagens de curvas: puro purismo. Fora asfalto e paisagem, essa norma permite apenas um complemento: o novo 911.
A selvagem Panamint Mountains aguarda no horizonte. Nada além de curvas emoldura as íngremes encostas. Stefan Bogner sente novamente o momento especial. Esse desejo que já o dominara há anos, quando ele compôs pela primeira vez a revista “CURVES”: “Só no carro eu realmente encontro sossego.” Para o fotógrafo, não há compromissos. Quando quer fugir da confusão do cotidiano, ele só vê duas possibilidades: ou fica atrás da câmera, ou senta atrás do volante. De preferência os dois – em trocas rápidas.
Na escolha de suas paisagens ele é mais tolerante. Com efeito – afinal a Califórnia já estava planejada há muito tempo. Mas até agora faltava o carro certo. “Você não vai explorar a matriz de todas as road trips com um carro qualquer. Tem que ser um 911”, revela o alemão natural de Munique com aquele mesmo sorriso, que ele certamente já dava ao ouvir um
Nenhum outro lugar lhe parece mais oportuno para “despertar experiências, lembranças e desejos, para depois reinterpretá-los”, confessa Bogner. A viagem começa em Los Angeles, o centro cultural da Califórnia. Sem planos, com o objetivo de não ter destino. Sem compromissos. Só botar o pé na estrada. Sem pressa.
Com o dedo no disparador, Bogner começa a procurar suas melodias, seu próprio som. O som de “Soulful Driving”, de dirigir com alma, da sensação de liberdade no meio das curvas, de estar viajando com amigos. Como antigamente, na sua banda. Hoje, seus dedos não tocam teclado, mas Nikon e Leica. Eles criam partituras de curvas e sonhos, imagens de um vazio quase infinito, preenchido de saudade. A sua canção nos leva a São Francisco pela Highway Number One. Summer of love, o verão do amor. Sem flores nos cabelos – mas com o sol no rosto.
Até o Vale do Silício são apenas alguns poucos quilômetros, sentimos o vento fresco. Um lugar do futuro. De dia, os nerds engendram novos mundos virtuais. Depois do trabalho, eles vão surfar no mundo real, na área da baía de São Francisco. Nós deixamos nossas marcas na costa do Pacífico – no asfalto. Deixamo-nos levar por seis cilindros e três litros de cilindrada. Bogner filosofa sobre o conversível como prancha de surfe de estrada. E quanto mais o escutamos, mais eloquente ele se torna. De repente o novo 911 torna-se o carma de sua vida, “mais aperfeiçoado e preciso do que o seu antecessor”.
O 911 equipado com o motor boxer superalimentado continua deslizando pela paisagem, insensível a tais pensamentos. Na nova configuração, ele está dez milímetros mais baixo, foi redesenhado com discos longitudinais no amortecedor traseiro e está mais definido com os faróis traseiros 3D. Com um som rouco ressonante ele se entrega às ondulações da faixa de asfalto, soberano – como se tivesse sido construído especialmente para esse percurso.Bogner está dividido: “Na verdade, nem quero sair do carro. O prazer de dirigir é inacreditável.” Mas do que adianta ter o mais belo carro com propulsão turbo, se ele só for visto de dentro? Ele encosta o carro – pronto, conseguiu. Fotógrafo de visão que é, Bogner não deixa nenhum tema ao acaso, e troca o 911 por um Bell. O helicóptero é aqui a única forma possível de gradação. Bogner busca a perspectiva aérea, “porque minhas imagens não são apenas sobre o estar na estrada, mas tratam também das perspectivas sem limite”. No Vale da Morte, com suas retas intermináveis, seus olhos procuram desesperadamente por curvas, uma âncora. Vem Las Vegas, passa-se ao longo da represa Hoover e sobre o Grand Canyon. Logo antes do deserto de Mojave, o fotógrafo está de volta ao solo. E assume o volante, claro.
Depois de seu passeio pelo céu, sua linguagem transborda da beleza sem limites dessa terra, dessa viagem. Das curvas dos sonhos e da paisagem despovoada. Concordamos: aqui poderia-se demonstrar o conceito de viagem estética, talvez como Johann Wolfgang von Goethe e suas viagens pela Itália do século XVIII. No entanto, estamos no século XXI, talvez em sua mais bela forma.
Silêncio. Amplidão. Vazio. As imagens de Bogner não precisam de pessoas como razão geral – ele as previu apenas como observadoras. Seu credo é: “Cada um pode imergir ali, reencontrar-se ali.” Seus temas não são forçados, mas têm sempre um visual definido. “Sempre um pouco sujo, caindo com prazer para o desfocado em alguns pontos”, diz o fotógrafo de 47 anos. O processamento das imagens também é uma questão de purismo para ele. Contrastes e profundidades, os tons pretos são puxados, pronto. Nada mais. “É uma questão de se apreender sentimentos.”
Na Europa, Stefan Bogner utiliza frequentemente uma objetiva super grande angular; nos EUA, isso não faz sentido para ele. “A paisagem aqui já é em si bem mais ampla do que, por exemplo, a de um vale alpino.” Durante o trabalho, ele de vez em quando troca sua Nikon por uma Leica; lente Zeiss versus objetiva Leica. Após dias entre o deserto de Mojave, o Parque Nacional de Joshua Tree e Palm Springs, damos a volta em direção a Los Angeles. Nosso destino: Venice Beach. Entrar no mar, ver fotos, discutir sobre curvas – quase como nas aulas de matemática, nos tempos de colégio. Curvas senoidais, pontos altos, pontos baixos – e, claro, pontos de viragem. Tangentes, que nem no infinito se encontram – ou quem sabe, sim. Tantas lembranças vivas, tanto asfalto delicioso – isso nos dá uma ideia: continuar na estrada.
Autores Tim Maxeiner, Christina Rahmes
Fotógrafo Stefan Bogner