Porsche - “Inovações significam futuro.”

“Inovações significam futuro.”

O novo CEO Oliver Blume assume a Porsche em uma época de mudanças. Por quanto tempo ainda haverá o motor a combustão? Por quanto tempo ainda poderemos sentar pessoalmente ao volante? Quando é que os computadores vão assumir? Suas respostas são contundentes e valentes – e para pessoas de mentalidade aberta.

Senhor Blume, o que significa para o senhor ser inovador?
Theodore Levitt, antigo professor de Harvard e criador do termo “globalização”, disse uma vez que criatividade significa pensar as coisas de um modo diferente. E inovação significa fazer as coisas de uma forma diferente. Acho que isso é o que mais se aproxima do meu entendimento.

O que é mais difícil?
Certamente inovar. Uma boa ideia está sempre no começo. Mas ela só se torna inovação, quando se impõe. Isso é trabalho duro, as inovações não surgem do nada. Mesmo sendo uma ideia tão nova e tão boa, se não for levada adiante pela empresa, se não interessar ao cliente ou não for rentável, ela não é uma inovação. Inovação é quando o mercado se entusiasma.

Ou seja, ser inovador é proporcionar ao cliente o que ele deseja?
Você tem que conhecer os seus clientes, sim. Ou antecipar o que desejam ter. Mas se fosse só isso, os irmãos Wright teriam continuado a vender bicicletas, em vez de inventar o avião.

O senhor está iniciando uma ofensiva de inovação na Porsche como parte de sua estratégia para 2015. Por quê?
Por um lado, as exigências dos clientes em relação a mobilidade individual estão se modificando extremamente. Por outro, os saltos técnicos na tecnologia automotiva e na produção de automóveis força-nos a pensar de uma forma totalmente diferente. As palavras-chave são eletrificação, digitalização e conectividade. Com isso, a indústria automobilística está diante de uma quebra de sistema. A Porsche também. Por um lado, isso é um grande desafio, por outro, uma enorme chance. Queremos continuar sendo o mais bem-sucedido fabricante de carros esporte do mundo também nas próximas duas ou três décadas. Por mim, por mais tempo ainda.

Pode uma empresa decretar uma cultura de inovação, de ideias?
Não, não creio. Isso não funciona assim tão simples quanto acender a luz. Mas podemos criar espaços que permitam desenvolver a criatividade e deixem margem para que se possa olhar para além dos limites. No centro deste ambiente está o ser humano. Se quisermos que a criatividade leve a algum lugar, temos primeiro que entender o que incentiva as pessoas a produzir ideias ou o que as impede de fazê-lo. Do que elas precisam? Qual é a sua motivação? Como lidamos com erros? Um programa de inovação não investe em patentes e invenções, mas em seres humanos. Inovações são estreitamente ligadas a entusiasmo e emoção.

Pode-se ensinar a ser inovador?
Isso também é difícil. Você pode passar conhecimento, melhorar as habilidades, criar um ambiente organizacional no qual as pessoas possam se desenvolver melhor. Mas será que é possível treinar a curiosidade? O desejo de ser inovador vem de si próprio. Vamos chamar isso de predisposição. Há pessoas que se divertem em lidar com problemas, onde quer que seja, quando quer que seja, com quem quer que seja. O importante é que daí resulte algo. Ou não. São pessoas assim que procuramos. A base para o sucesso é uma gestão de inovação sistemática e profissional, assim como coragem para colocar as coisas em prática.

Como o senhor pretende fazer isso?
Em primeiro lugar, definimos campos nos quais a Porsche é especialmente inovadora, por exemplo, design ou motores, e os processos de produção e materiais a eles ligados. Em segundo, montamos uma gestão de inovação abrangente. Ela conecta todas as áreas – inovações envolvem toda a empresa – e estabelece uma transparência absoluta para os nossos projetos de inovação. E em terceiro, fortalecemos a capacidade de inovação de cada área. Os processos devem tornar-se mais rápidos, os meios aplicados de forma mais flexível e os respectivos colaboradores melhor qualificados.

A Porsche não é inovadora o suficiente?
Certo é que a Porsche foi, é e vai continuar sendo inovadora. 356, 911, Boxster, Cayenne ou Macan, mensageiros da tecnologia como o 959, o Carrera GT ou o 918 Spyder são representações e ideais da cultura individual do carro esporte. A construção do Targa, o turbocompressor de gás de escape no 911, o eixo traseiro autodirecional no 928, a transmissão transeixo no 924, a turboalimentação em duplo estágio no 959 ou o spoiler dianteiro ativo no 991 atual são destaques tecnológicos. A Porsche é a inventora da propulsão híbrida. Com o LMP1, vencedor de Le Mans e campeão mundial, a Porsche mais uma vez revolucionou – e dominou – o automobilismo. O Mission E, o primeiro modelo Porsche totalmente movido a bateria, estabelece padrões de desempenho, dinâmica de direção, autonomia e tempo de carregamento. Podemos ir mais além e afirmar que Zuffenhausen e Weissach são o “Vale do Silício” da construção de carros esporte.

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Oliver Blume

Oliver Blume, nascido em 1968 em Braunschweig, é CEO da Dr. Ing. h.c. F. Porsche AG desde outubro de 2015. Antes disso, ele dirigiu por dois anos os setores de Produção e Logística da empresa. Blume cresceu no Grupo Volks­wagen. Trabalhou para a Audi, Seat e a marca Volkswagen, onde ocupou por último o cargo de diretor de Planejamento de produção. Tornou-se “Doutor em Engenharia” em 2001 pelo Instituto de Engenharia Automotiva na Universidade Tongji de Xangai.

Muito disso aconteceu faz tempo e virou tradição. Quão difícil é passar uma nova cultura de ideias?
Não é nada difícil. Tradição é um compromisso. Ela nos dá asas. Tradição e inovação são os dois lados da moeda Porsche. Isso não se pode separar. Sem nossa tradição, não estaríamos onde estamos hoje. É disso que vivemos. No entanto, se tradição significar que devemos continuar fazendo como sempre, porque sempre fizemos assim, então aí fica perigoso. Sem inovações, todo o conceito da mobilidade individual está em risco. Como alguém já disse uma vez, em lugar de “sim, mas…” é preciso dizer “sim, e…” O importante é sermos inovadores sem abandonarmos a tradição.

E qual é seu plano para realizá-lo?
Ao nos concentrarmos nas áreas essenciais: linha de transmissão, construção leve e conectividade, assim como sistemas de assistência ao motorista e à segurança.

Além disso, a Porsche está fundando a Digital GmbH em Ludwigsburg, com filiais no Vale do Silício, na China e em Berlim. Por quê?
Ali a concentração de estímulos é especialmente alta.

Quanto tem de Apple ou Google nisso?
Em primeiro lugar, o que mais tem aí é muito pensamento Porsche. Também nós precisamos de uma mentalidade de inovação e de uma estrutura que não se baseie no acaso, mas em um sistema.

No que exatamente?
A empresa é uma espécie de centro de competência para a mobilidade digital. Queremos tão cedo quanto possível estabelecer um novo dinamismo. Funcionários, equipes ou departamentos inteiros estão trabalhando nisso como start-ups à procura de novos potenciais de geração de valor e soluções inovadoras. Sabemos que os erros fazem parte do processo de aprendizagem. Além disso, a Digital GmbH busca a participação em fundos de capital de risco selecionados. Juntos, eles oferecem capital próprio para empresas inovadoras e de forte crescimento, conseguindo acesso a novas tecnologias. Queremos aprender – e lucrar com isso. Afinal, a Digital GmbH deverá integrar-se estreitamente à cena. Ela monitora as tendências profissionalmente ou fomenta a colaboração a longo prazo com outros incubadores.

A Porsche vai se transformar com isso em uma outra empresa?
Nossa questão não é mudar nosso caráter e colocar a empresa toda de pernas para o ar. O que desejamos é uma geração sistemática de ideias para além de todas as áreas, assim como sua implementação rápida e flexível. Queremos respostas a questões urgentes sem limitarmos o pensamento. Não queremos uma cultura do evitamento, mas uma cultura empresarial, no mais verdadeiro sentido da palavra. Não queremos ser de outro jeito, queremos melhorar.

Isso vale apenas para os produtos?
Este é um dos três grandes erros.

Que seriam?
Erro número um: acredita-se sempre que, quando se trata de inovação, ao final acabamos fazendo um carro novo. Isso pode acontecer, mas não tem que ser necessariamente assim. Líderes em inovação lidam com o assunto de forma extremamente diversa. Além de trabalhar com tecnologias e produtos, eles se ocupam intensamente com processos, serviços, interfaces com o cliente, parcerias e modelos de negócio. O erro número dois tem a ver com isso. Será que o que estou fazendo tem sempre que ser novo, único e revolucionário? De modo algum. Não apenas o pioneiro, mas também o seguidor mais veloz pode ser muito bem-sucedido. A Porsche não inventou o SUV, mas dele fizemos um Porsche.

E o erro número três?
Um processo constante de melhorias já é inovador o suficiente. Fazemos tudo um pouco mais veloz, mais leve, mais barato. Acho que também devemos ter a coragem de questionar algumas coisas fundamentais. Sem isso não haveria o Porsche Mission E.

Em termos de inovação, até que ponto o senhor toma a iniciativa ou é impulsionado?
A Porsche é a impulsionadora ativa da cultura individual do carro esporte. Ponto. Mas não somos cegos. As nossas inovações também devem nos ajudar a nos proteger de possíveis ataques de novos intervenientes.

Medo do Porsche da Google?
Tenho respeito pela imensa cultura de ideias e de aprendizagem de empresas como a Google. Só temos a aprender com isso. Por exemplo, o carro totalmente conectado e autônomo só é possível ser realizado com uma estreita cooperação com empresas do setor de TI e comunicação. O que me faz refletir mais é a atração dessas empresas por pessoas que nós também gostaríamos que estivessem trabalhando conosco. A guerra pelos talentos está mais acirrada do que nunca. Por isso temos que oferecer muito mais possibilidades e espaços abertos. E necessitamos de uma cultura na qual digamos com mais frequência “ok, vai fundo” em lugar de “isso não vai dar certo!” Temos que deixar de entender o fracasso como um estigma e assumir que são uma parte da receita do sucesso.

Texto Rolf Antrecht
Fotos Max Kovalenko

O futuro digital da Porsche

“A digitalização leva a um renascimento do automóvel e o coloca no centro do nosso estilo de vida digital”, afirma Thilo Koslowski.

A Porsche acaba de fundar a Porsche Digital GmbH para converter a empresa na fornecedora líder de soluções digitais de mobilidade no segmento premium de automóveis. A direção será assumida por Thilo Koslowski, um perito tanto no setor automobilístico como no da internet e das novas tecnologias, que há pouco ainda atuava na firma de consultoria de TI norte-americana Gartner Inc.

Wolfgang Porsche, presidente do Conselho Administrativo da Dr. Ing. h.c. F. Porsche AG, acentua: “A nossa Digital GmbH fortalece a marca, cria experiências inovadoras para os clientes e nos permite estabelecer relações com novos sócios. Nela, o tradicional espírito da Porsche se une à força das novas tecnologias.” A Porsche Digital GmbH se concebe também como uma interface entre a Porsche e inovadores do mundo todo, especialmente nas áreas da conectividade, mobilidade inteligente e direção autônoma. Isso inclui a procura por parceiros apropriados para o processo de transformação digital da Porsche, definir um ecossistema digital e explorar tendências a nível internacional. As participações em fundos de capital de risco e empresas start-ups criam uma rede de contatos com companhias inovadoras e de crescimento rápido, e com novas tecnologias.

A fundação da subsidiária faz parte de uma ambiciosa ofensiva de inovação da Porsche. A sede da Porsche Digital GmbH será em Ludwigsburg, nas proximidades de Stuttgart, e em breve serão abertas unidades em Berlim, no Vale do Silício e na China.