Quadros de uma exposição
A inovação em cada detalhe e a composição acurada de todos seus elementos convertem o
A diversidade da obra de Modest Mussorgsky “Quadros de uma exposição” encorajou dezenas de compositores a criar adaptações sempre novas. A suíte para piano age como uma regulamentação: é preciso cumprir vários parâmetros para que o resultado seja reconhecível. E ao mesmo tempo, para se compor uma obra própria, cada detalhe da nova interpretação deve ser excelente. Não é muito diferente no caso do
O inovador protótipo de Le Mans é uma composição de tecnologias altamente complexas. Em seu núcleo atua um conjunto propulsor único em seu gênero. Atrás do piloto se encontra o motor de dois litros com quatro cilindros que impulsiona o eixo traseiro. Com seu tamanho compacto e ajustado, ele é um modelo exemplar de otimização dimensional. Pois o regulamento limita o consumo de gasolina por volta, estimulando, desta forma, o uso de sistemas inteligentes de recuperação de energia. Em complemento ao motor de combustão, um motor elétrico impulsiona o eixo dianteiro. Juntos, eles chegam a um desempenho combinado de quase 1.000 cv.
O motor elétrico é alimentado por uma bateria de íon-lítio que armazena a eletricidade de dois sistemas de recuperação de energia: em frenagens, o 919 converte a energia cinética liberada nos freios frontais em energia elétrica, enquanto que na aceleração, a eletricidade é obtida a partir da corrente de gases do escape. A vela de ignição, a turbina de escape, a célula da bateria ou o dispositivo de controle que orquestra todas essas operações – cada elemento deve ser acuradamente projetado e funcionar nas mais adversas condições. Todos os componentes despertam admiração como solista, mas só atuando juntos eles alcançam êxito.
No conjunto aerodinâmico, o tom é o mesmo: gabaritos demarcam a liberdade dos engenheiros. O fluxo de ar deve ser correto desde o spoiler dianteiro até o difusor traseiro, e igualmente quando passa pelos canais de ventilação ou retrovisores externos. De nada serve um pico de velocidade fantástico na reta, se uma pane devido ao superaquecimento dos freios afeta o carro após algumas horas. Tudo no protótipo é tecnologia no seu limite máximo. É por cada uma das peças e pelo ajuste perfeito entre elas que os engenheiros vencem a cada dia a batalha contra os limites técnicos do possível. 260 funcionários trabalham na equipe LMP1 da
1 Volante
Computador de alta tecnologia para a direção do veículo – a central de comandos do protótipo: seus 24 botões e seis teclas permitem dirigir o 919.
Os pilotos de LMP1 têm em mãos um computador. Os 24 botões e interruptores na frente, bem como seis teclas (embreagem e troca de marcha) atrás permitem controlar este complexo carro de corrida. Uma tela indica os valores referentes ao estado do veículo. Com o Boost se ativa a energia elétrica e se acendemas luzes de aviso, com as quais os velozes protótipos advertem os veículos GT mais lentos de que pretendem avançar. Combinações de interruptores ou reguladores possibilitam selecionar o gerenciamento do motor e do sistema híbrido, assim como o controle de tração. Também fazem parte deste instrumento o balanceamento de frenagem, radiocomunicação, o botão de confirmação, a garrafa de beber, a função “planar” e os controles de velocidade para a reta dos boxes e as fases de neutralização durante a corrida. Para que os pilotos possam se orientar na escuridão, são empregadas cores fluorescentes que são iluminadas com luz negra.
2 Porta
Seu peso é muito baixo: apenas três quilogramas. Por motivos de segurança, é preciso que o piloto consiga sair do carro em sete segundos. Possui estrutura de apoio para a cabeça.
A porta pesa apenas três quilogramas e deve ter um tamanho mínimo. O piloto deve poder sair do carro em sete segundos. Para as emergências, é obrigatório o uso do sistema de liberação rápida que desprenda a porta das dobradiças. A porta do piloto deve servir ainda como suporte para uma estrutura de apoio da cabeça. Ela é feita de polímero com memória de forma (um plástico que, depois de deformar-se, recupera a forma original) e forrada com plástico composto de fibras de aramida (que confere uma resistência específica). No teste de choque do capacete, é aplicada uma carga de 700 quilogramas em sentido transversal no marco da porta, que deve permanecer intacta. Durante a condução, forma-se na lateral do cockpit uma zona de baixa pressão que empurra a porta para fora com uma força de até 60 quilogramas. O marco deve ter rigidez suficiente para não afetar a aerodinâmica, e é construído em material compósito com fibra de carbono de alto módulo. O vidro é de policarbonato e tem, no mínimo, dois milímetros de espessura.
3 Bocal do tanque de combustível
É um elemento de vedação importante e deve ser hermético para evitar incêndios. A dinâmica de fluidos, ou seja, a troca de ar por gasolina, define o tempo das paradas no boxe.
As paradas de reabastecimento devem ser rápidas e seguras. O design do tanque de combustível e do bocal de abastecimento é definido pelo regulamento. Nada deve falhar ao abastecer ou ao retirar a mangueira, já que o veículo está quente por causa da corrida e o combustível se inflamaria imediatamente se entrasse em contato com ele. O autobloqueio de segurança é efetuado por um complexo mecanismo móvel que um mecânico aciona com duas alavancas. Um sensor evita que o motor arranque antes que a mangueira seja removida. O abastecimento de um 919 Hybrid funciona sem pressão adicional, utilizando apenas a força da gravidade. Por isso, a dinâmica de fluidos é decisiva: o combustível deve fluir com a menor resistência possível até o interior do tanque, que possui uma forma especial. Pela mangueira passam combustível e ar ao mesmo tempo: o segundo deve sair, e o primeiro deve entrar o mais rápido possível no tanque.
4 Vela de ignição
Projetada sob medida, minúscula e extremamente leve. Acionou mais de 5 milhões de vezes nas 24 Horas de Le Mans. O motor V4 atinge 9.000 rpm.
O compacto motor turbo 2.0 de quatro cilindros do 919 Hybridé o motor de combustão mais eficiente construído até hoje pela
5 Turbina
Graças ao turbilhão de vento que surge no escape, este componente gera eletricidade que se armazena na bateria de íon-lítio. Possui geometria variável e gira a mais de 120.000 rpm.
O
6 Retrovisor
Possui aerodinâmica otimizada para oferecer o mínimo possível de resistência ao vento. Sua superfície é de 100 cm² e ele pesa 500 gramas. Conta com função dia e noite e seu design impede vibrações.
Especialistas em aerodinâmica prefeririam se desfazer dos retrovisores externos, que só atrapalham o fluxo de ar. Mas os pilotos não podem ficar sem eles. Por motivos de segurança, o regulamento prescreve alguns parâmetros: o espelho deve ter uma superfície mínima de 100 cm² e um design que permita ao piloto enxergar, de sua posição sentada normal, todos os carros que estejam a mais de dez metros de distância atrás dele. Assessores de pista controlam a eficácia dos retrovisores usando placas com letras. Ademais, o ajuste dia e noite é obrigatório. Isso se faz com uma película fotossensível que reduz o ofuscamento causado pelos veículos de trás. A própria superfície do espelho é composta de uma fina camada de vidro colada sobre uma base de carbono. A carcaça dos retrovisores tem aerodinâmica otimizada para minimizar não só a resistência do ar, mas também as vibrações. O espelho e o mecanismo de ajuste estão alojados em uma carcaça de compósito de fibra de carbono. Todo o conjunto pesa apenas 500 gramas.
7 Célula da bateria
Tecnologia avançada. Absolutamente único em seu gênero. Cada bateria de íon-lítio contém centenas dessas unidades. Juntas elas fornecem 800 volts de alta tensão.
Para o sistema híbrido do 919, a
8 Unidade de controle
Um cérebro de alto desempenho que assume complexas tarefas de coordenação. Controla estratégias da propulsão híbrida, do veículo e seu funcionamento. É extremamente leve.
Uma unidade de controle do motor e uma unidade de controle do chassi (foto) regulam a interação entre todos os componentes propulsores do 919 Hybrid. Destes fazem parte o motor de combustão e o sistema de recuperação de energia do gás de escape na parte traseira, assim como o motor elétrico na dianteira. Juntos, eles interagem dirigidos por estes dois cérebros eletrônicos. Assim, controlando de modo inteligente o sistema de tração integral se alcança a eficiência máxima e, com isso, os melhores tempos de volta. Através de perfis de circuito tridimensionais, todos os estados de condução imagináveis são simulados e otimizados antes de começar cada corrida. Com base nessas informações, as unidades de controle regem constantemente a interação perfeita dos componentes propulsores. Outro requisito a ser cumprido ao desenvolver estes computadores de alto desempenho é o uso de peças extremamente leves.
Texto Heike Hientzsch
Fotos Rafael Krötz